23.8.13

Uma História de Amor e Fúria

Brasil. Rio de Janeiro. Fins do século XXI. Um jovem apaixonado está encurralado no alto de um edifício do futuro. Suas lembranças remontam a 600 anos, quando o Brasil foi descoberto pelos europeus. E resolve nos contar sobre o que viveu desde então. São quatro momentos históricos da civilização brasileira. A criação do Rio de Janeiro, a Guerra dos Balaios, a Ditadura de 64 e a nova ordem miliciana carioca do futuro. Fico imaginando quanto cada empresa que aparece nos créditos iniciais contribuíram... Se observar que os apoiadores deste projeto são empresas mega-orçamentárias é uma pena que um projeto de 2005 só tenha sido concretizado em 2012. A animação é um espetáculo visual. É criativa e usa as mais inventivas e variadas técnicas no decorrer do filme. Original, singular, ímpar. O filme têm elementos que contrariam a história oficial e fomentam uma nova versão dos fatos. Essa liberdade é empolgante. Uma frase recorrente e inquestionável que abre, fecha e permeia o filme: "Não há futuro para quem desconhece seu passado". E o passado sempre pode ser reinventado. Não precisa ser verdadeiro basta ser sincero. A direção tem um ritmo estranho, e de certo modo, lento. A narrativa é simples e basicamente cliché. O protagonista narra em primeira pessoa a história de suas lembranças de 600 anos distribuídas em várias vidas no decorrer do tempo. O ineditismo do roteiro sugere que o vejamos mais vezes. Existem muitos pormenores que passam desapercebidos. A animação tem menos de 80 minutos e mesmo assim tem momentos que ficamos a nos perguntar: e aí? É um problema de dinâmica de ação. Como se a direção tivesse sempre com o pé no freio. Artisticamente é fabuloso! Os cenários, os traços, as paisagens, as panorâmicas, os travellings, as cores, enfim, é um filme que merece reconhecimento por seu primor artístico. São quatro histórias independentes ligadas por um único espírito que entre uma existência humana e outra a assume a forma de uma pássaro preto e vermelho (flamengo?). Tupinambás, Tupiniquins, portugueses, franceses, nascimento da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, tomada de Caxias do Maranhão, a Balaiada, os quilombolas, a criação do exército brasileiro, a luta armada e os assaltos ideológicos dos tempos da ditadura militar no Brasil, o aparecimento da Falange Vermelha (crime organizado no Rio de Janeiro), a perspectiva de um futuro refém da segurança privada, das milícias armadas organizadas e onipresentes, a constatação de que o poder sempre será opressor (ou pela lei ou pela força)... O filme é tenso mas tem breves momentos de leveza, uma piadinha aqui e ali. Um certa sensualidade percorre os corpos nus que desfilam naturalmente entre os índios, belos contornos. Não gostei da dublagem do carismático Selton Melo, para esse papel precisaria de uma voz menos mansa que a dele. Wagner Moura teria mais a ver eu imagino.

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