15.5.02

Aranha coments

Homem-Aranha


Sim, eu já vi o novo filme do Homem-Aranha, o grande blockbuster de 2002. Vi ontem de manhã, em companhia de meu irmão Danilo, em sessão para jornalistas, no shopping Villa-Lobos. E, para que as atuais raras e mais do que especiais leitoras deste site possam ouvir algo sobre a obra, que estreou nos EUA na sexta passada e só chega por aqui no dia 17, interrompo a lenta publicação dos textos mais antigos para dar logo o recado.
Mas, antes de falar do filme, vamos falar do personagem. Quadrinhos de super-herói são para crianças e adolescentes (não que um monte de adultos os leiam _tem muito trintão que lê até “Dragon Ball”), são uma diversão ingênua, bobinha etc. Tiveram seu grande “boom” no final dos anos 30, quando os EUA ainda sentiam os efeitos da depressão econômica iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial (a guerra, inclusive, foi tema saboroso para os autores, que usavam as histórias para aumentar o moral das tropas e do povo, com personagens patrióticos como o Capitão América).

O Homem-Aranha surgiu bem depois, no início dos anos 60, e foi um personagem revolucionário: pela primeira vez, os superpoderes foram encarados não como uma bênção, mas como uma maldição. Não que os heróis dos quadrinhos não tivessem seus dilemas, mas pelo menos o Super-Homem era um repórter bem-sucedido, o Batman era milionário (assim como o Homem de Ferro), o Thor era um deus etc.

Já o Homem-Aranha... coitado. O pobre do Peter Parker é um baita de um fodido. Órfão, sempre sem dinheiro, tendo problemas na escola, sendo abusado pelo patrão J. Jonah Jameson, levando bronca da tia May, apanhando do fortão Flash Thompson, levando fora da mulherada, fugindo da polícia, passando as noites em branco, temendo pela segurança dos amigos... Invariavelmente, as histórias escritas por Stan Lee acabavam em tom de lamúria, com o herói lamentando sua sorte irlandesa. Era deprimente.

Como era de se esperar, um filme de cerca de duas horas dificilmente conseguiria demonstrar todas as nuanças do personagem. Mas a reação de boa parte das pessoas (todas do ramo das HQs) com quem comentei a obra, logo após sua exibição, foi positiva: “Homem-Aranha”, dirigido por Sam Raimi (o mesmo de “O Dom da Premonição”), é mais fiel à HQ do que se esperava.

Claro que há diferenças. A mais gritante delas é a confusão entre a personagem Mary Jane Watson (interpretada por Kirsten Dunst, de “Entrevista com o Vampiro” e “As Virgens Suicidas” _ela não ficou tão bem ruiva, que pena) e a clássica Gwen Stacy, a primeira paixão do amigo da vizinhança.

Na HQ, Gwen tinha uma relação atribulada com Peter (não sem se envolver também com Flash Thompson, o típico atleta de colégio _depois ele acabaria lutando na Guerra do Vietnã), e Mary Jane namorava o perturbado Harry Osborn (o filho do Duende Verde), personagem que também foi revolucionário, graças a seu vício em drogas, assunto complicado de ser abordado em uma HQ norte-americana, ainda mais nos anos 60/70 _beeem antes de "O Clone").

Em um dos momentos mais trágicos dos quadrinhos, Gwen é assassinada pelo Duende Verde (o “Coringa” do Homem-Aranha) _a história é recriada neste “Homem-Aranha”, mas é claro que Mary Jane (que aqui é mais Gwen do que Mary Jane, no final das contas) sobrevive, afinal, um campeão de bilheteria pede um final feliz, embora o final desta obra não seja 100% "feliz" _caso contrário não seria uma história do Aranha...

O filme aproveita apenas um vilão, o Duende Verde, o mais clássico de todos, dentre a imensa galeria de oponentes do Aranha (pena que o Doutor Octopus sequer aparece). O bom Willem Dafoe não lembra muito o Norman Osborn original (Harry também está bem diferente), e a versão 2000 do Green Goblin é bem esquisita (embora se o visual clássico do biltre tivesse sido adotada, provavelmente ficaria ainda mais inverossímil).

Tobey McGuire está ótimo como o Peter Parker, embora o rapaz, no filme, não se queixe tanto da vida como nas HQs. Mesmo assim, apenas pela sua voz, dá pra perceber que o Parker é um coitadinho. Mary Jane está esquisita (a original tinha mais jeito de chave-de-cadeia, esta do filme é meiguinha demais), assim como a tia May (meio gordinha e um tanto jovial). Sensacional mesmo é a caracterização de J. Jonah Jameson, o editor do “Clarim Diário”, que move uma campanha para sujar o nome do bom e velho escalador de paredes.

As cenas de luta com os bandidos “normais” são muito bem-coreografadas, e os passeios de teia por Nova York (sim, há patriotadas pós-11 de setembro...) são sensacionais _no filme, a teia é orgânica, ao contrário da HQ, onde o cientista-mirim Parker criava uma teia sintética, equipada em um disparador mecânico.

O filme não lembra muito o estilo de Raimi (diretor também da série “Uma Noite Alucinante”, do faroeste “Rápida e Mortal” e do grande “Um Plano Simples”), o que não é de espantar, já que estamos falando de uma superprodução criada para faturar centenas de milhões de dólares _e já está faturando...

Enfim, "Homem-Aranha" é blockbuster típico de Hollywood, mas pelo menos é uma honesta peça de entretenimento, para assistir, achar legal e só. Nada tão antológico quanto os quadrinhos, mas pelo menos não fizeram um filme “trash”, indigno do carismático personagem (como a horrenda série televisiva criada no início dos 80, na cola de "O Incrível Hulk" e "Mulher Maravilha"). Será que você vai conseguir não assisti-lo, depois de tanto marketing maciço?

Nota: 7,5/10

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