1.10.03

Tabu (Gohatto)

Um filme intrigante. A história se passa na segunda metade do século XIX no interior do Japão, naquela época o Japão era dividido entre os isolacionistas e os não-isolacionistas. Conta a história de um belo jovem que treinava para ser samurai e que atraía os desejos de vários homens. O filme tem um clima muito mais reflexivo do que crítico e não é explícito como "Império dos Sentidos", na cena mais forte fica clara a encenação. Ainda assim é um filme polêmico pois trata do homosexualismo entre guerreiros. A fotografia do filme é impecável, uma estética primorosa. A direção é meio estranha e a trilha é mui bella. Por conhecer pouco da cultura nipônica não posso me aprofundar na análise do filme, coisas como o corte de uma árvore no final do filme ficaram simplesmente no ar pra mim, só depois vim saber o que simbolizava (no artigo abaixo). Recomendo este filme principalmente se vc tiver com quem conversar sobre o Japão. 

O texto abaixo não é meu mas ajuda a compreender o filme.

Gohatto (Taboo) é um dos filmes mais impressionantes da competição. Mas é difícil saber se é um filme do qual se gosta, realmente, ou se ele desperta uma admiração um pouco fria, como o teorema perfeito que é. 

Oshima fez um filme de uma lógica implacável. É fácil e até sensacionalista definir Taboo como uma história de amor entre homens ou um filme sobre homossexualismo no meio dos samurais. O filme é isso, claro, mas é muito mais. A milícia de samurais de Taboo constitui um mundo fechado nas próprias regras. Elas são subvertidas pela chegada desse garoto que representa a beleza e que desperta a paixão obsessiva dos homens do clã, fazendo com que eles se matem entre eles. A beleza, segundo Oshima, é destrutiva e mortal em Taboo. 

Na coletiva, o cineasta explicou que o tema surgiu como uma alternativa possível depois que ele não conseguiu tornar viável o filme que pretendia fazer sobre outra relação homossexual - a de Rodolfo Valentino, o latin lover por excelência do cinema americano nos anos 20, e do japonês Sessue Hayakawa, que fazia carreira em Hollywood. Oshima jura que não fez Taboo só para escandalizar. Há cenas pesadas de sodomia, mas o cineasta acha que elas são necessárias para o relato. 

Ele lembra que "Império dos Sentidos", com suas cenas de sexo explícito que fizeram sensação aqui em Cannes nos anos 70, continua um filme meio maldito. 

Foi proibido, há pouco tempo, de passar na Coréia, quando o país se abriu para os filmes japoneses. Oshima afirma não temer o homossexualismo como tema dramático. "Todo agrupamento de homens no cinema - em filmes de guerra, de samurais ou de westerns - comporta sempre um elemento homossexual, que as pessoas só não vêem se não querem." 

O plano final de Taboo é um dos mais belos desse festival. Takeshi Kitano, identificado nos créditos somente como Beat Kitano, despedaça a cerejeira com um golpe de sabre. É um símbolo da derrocada do mundo dos samurais. O curioso é que, no mesmo dia em que passou o filme de Oshima, em concurso, também foi exibido, fora da competição, Crouching Tiger Hidden Dragon, de Ang Lee, com Chow Yun-fat. Um filme de kung fu, elevando o método oriental de luta à condição de uma das mais belas artes. Ang Lee criou uma elaborada coreografia da violência, mas fez um filme que subverte as regras do gênero porque nele as mulheres encarnam virtudes tradicionalmente representadas pelos homens nesse tipo de aventura.

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